segunda-feira, 25 de abril de 2016

"Ele está de volta", filme.

Assisti ao filme "Ele está de volta", do diretor alemão David Wnendt, baseado no livro de mesmo nome de Timur Vermes.
Nele, Adolf Hitler acorda inexplicavelmente em Berlim dos dias atuais. Perambulando pela cidade, encontra um jornaleiro e um jornalista recém demitido que, sem saber que se tratava do verdadeiro Führer, o convence a fazer uma viagem pela Alemanha a fim de filmar a reação das pessoas à sua figura bastante verossímil.
O filme mescla ficção e realidade, ao registrar muitas reações verdadeiras de pessoas que não sabiam que se tratava gravação de um filme, bem ao estilo Borat. E nisso, é bastante curioso ver que, mesmo nas terras germânicas, muitos tratam o que seria um transformista de um dos maiores genocidas das história, sem qualquer espanto ou ojeriza, com algumas poucas ressalvas, o que faz ressoar o monólogo final do filme sobre essa situação.
Hilários os momento em que ele conhece as novas tecnologias, com destaque para a cena em que ele descobre a Wikipedia.
Após a viagem, Hitler é convidado para apresentar um programa televisivo sensacionalista de humor, em que aproveita para disseminar suas idéias, agora já atualizadas e adaptadas ao novo mundo em que se viu. Levando a sério seu novo intento de salvar a Alemanha hodierna, e sem se importar de participar de um programa humorístico porque, segundo o próprio, "não interessa como, o que importa é ser ouvido", não poupa comentários racistas, antissemitas, homofóbicos e discriminatórios de toda natureza em rede nacional. Não demora a se tornar uma celebridade nacional, escrevendo um livro que depois é adaptado ao cinema.
O filme é bem dirigido, com uma boa velocidade e um ótimo tempo das piadas, sabendo captar bem e ironizar as reações dos que não sabiam que se tratavam de um filme.
Sem spoilers, o ponto alto do filme ocorre quando uma determinada atitude de Hitler choca mais a sociedade que todo seu falatório fascista.
Após as risadas, o que preocupantemente ecoa durante dias é o que foi falado pelo próprio Hitler no filme, fazendo recordar nossos dias: "não importa se riem, há setenta anos todos riam no início".


quarta-feira, 20 de abril de 2016

Bela, recatada e do lar

A revista Veja faz matéria com Marcela Temer, classificando-a como "bela, recatada e 'do lar'".

Belas, todas são. Recatada e do lar, se assim desejarem, que o sejam, pois tantas bravas anônimas se igualam aos heroicos exemplos das mártires em seus sacrifícios diários. 
O que não podemos admitir é a tentativa tacanha de padronizar o papel e a estética feminina, como assim tentou a esdrúxula revista, esquecendo e menosprezando todas as mulheres que vão às lutas, claramente tentando sobrepor a "quase primeira-dama" à Presidenta, e também já guerrilheira, Dilma.
Que se calem os discursos que tentam encontrar para as mulhereres, impositivo e opressivamente, o seu lugar.
Lugar de mulher é onde ela quiser.

domingo, 17 de abril de 2016

O agonizar do Brasil

No dramático combate de Curupaiti na Guerra do Paraguai, caído ao chão e ensanguentado, um combatente aliado foi acudido e perguntado sobre seu estado, quando respondeu: “não é nada, apenas um braço a menos; a pátria merece mais”.

Não pode haver irresignação maior que a do idealista que, em nome de uma convicção, renega os anos de sua juventude, sua liberdade e por vezes sua própria vida. Cada vez mais raro, é verdade, mas ainda assim ele é o responsável por não deixar fenecer a moribunda flâmula da liberdade, que é, sim, o único bem pelo qual se vale a pena morrer.

Sobre ele, Agassiz Almeida, abalizado pelas marcas em si deixadas pelas garras da ditadura, já vociferou: “Quem é o idealista? O irrequieto nunca vencido a dormitar na utopia de todos os revolucionários, que sofre, luta, ri, chora e quer construir novos mundos”.

Esperamos, porém, que exemplos drásticos de heroísmos não sejam necessários hodiernamente, pois todo o sangue e lágrimas vertidos pelos séculos já deveriam ter lavado as máculas do voluntarismo despótico e da autofagia social. Ressente-nos, porém, quando os olhos ensandecidos do autoritarismo nos encaram com seu terror.

Esses olhos dirigiram hoje um processo que estrangulou, à vista do mundo, o pendão púbere da democracia brasileira, e em meio a um espetáculo pueril e ameaçador, viu-se a ribalta de sorrisos, gargalhadas, performances e o despudor da troca de personas, por vezes constrangidas, por vezes ameaçadoras, descortinar a perfídia dos que se interessam em representar apenas a si mesmos: cenas irracionais de um teatro de guerra que, sim, mutilou um dos membros do corpo ainda em desenvolvimento da nossa democracia.

Cambaleante e agonizante, o Brasil sofre novamente o martírio da interrupção de seu desenvolvimento em nome dos interesses tacanhos de tenebrosas transações firmadas pelos carrascos do progresso. E é assim que observo o gigante já exausto, desanimado, esmorecido de tantas extirpações, de tantas interrupções, que o impõem sempre que ensaia se reerguer nos seus poucos séculos de vida sobre o alicerce da democracia.

O alemão Carl Schmitt já asseverou que o soberano é quem decide sobre o estado de exceção, e o antagonismo político, que fundamenta tal pensamento, ficou bastante claro quando observamos o Estado Material de Direito ser solapado por uns poucos que suspenderam toda e qualquer norma para infligir seus preocupes em detrimento do povo.

A pulsação democrática, de tão intermitente, já quase não se ouve, e com o sangue ainda fresco dos mortos no golpe da ditadura de 1964, querem ferir de morte ainda tantos outros. Em seu leito, os carniceiros aguardam seu perecimento.



A sombra da figura funesta já se avoluma sobre o solo pátrio. Mas esquecem, no entanto, que a morte é grande amiga dos que não a temem, e será essa a única possibilidade de desfibrilar o país, com a irresignação dos idealistas que com ela se unirão, se preciso for.