quarta-feira, 28 de setembro de 2016

A revolução guatemalteca, Greg Grandin. Revoluções do Século 20

A Editora Unesp lançou já há alguns anos a coleção Revoluções do Século 20, dirigida por Emília Viotti da Costa, com pequenos livros escritos por especialistas nos respectivos conflitos que marcaram o último século.
Já havia lido o que trata da revolução chinesa, e confesso que adquiri esse sobre a revolução guatemalteca para suprir minha ignorância no tema. É extremamente interessante, e desalentador, perceber as semelhanças das sociedades latino-americanas em meados do século passado: enorme concentração de renda, elite política e econômica dominando e massacrando a grande massa pobre e ignorante, movimentos sociais e políticos sendo perseguidos e execrados, influências estrangeira nos assuntos internos etc.
As agruras guatemaltecas iniciaram em 1944, quando a ditadura de Jorge Ubico, que governava o país há treze anos, foi derrubada e um socialismo de espectro de menos a mais radical passou a governar o país por dez anos, com os governos Arévalo e Arbenz.
Com a desculpa de refrear uma suposta contaminação comunista/soviética no continente, pois não houve provas até hoje de qualquer ligação mais forte entre os novos governos democráticos da Guatemala e a União Soviética, sobrepôs-se, na verdade, os interesses de corporações norte americanas e grandes proprietários rurais locais que passaram acumular prejuízos com a reforma agrária executada no país. Contra isso, investidas de militares locais apoiados pelo governo dos EUA, desde o treinamento militar e de inteligência e fornecimento de materiais bélicos, até o que o autor denominou de guerra psicológica, com a propagação de livros, gibis, filmes etc. criando uma caricatura demonizada dos comunistas.
Dez anos após a derrubada da ditadura e da implantação da democracia, as forças acima referidas conseguiram depor o governo democrático e, junto com a volta da ditadura, uma guerra civil durou décadas, tendo terminado apenas em 1996, com a dizimação quase que completamente indiscriminada da população indígena.
Outro fato interessante também sobre esse deplorável episódio na Guatemala foi a criação e o aperfeiçoamento, no bojo da CIA, de um grande programa de inteligência, denominado de Operação Limpeza, que se estendeu a muitos países da América Latina, inclusive o Brasil, e que ensejou a estapafúrdia Operação Condor, que teve o desenrolar que já conhecemos.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Colômbia, FARC e um processo de paz

Ontem, dia 26 de setembro de 2016, foi assinado na Colômbia o acordo de paz entre o Governo e as FARC.
Pelo acordo, haverá o término de um conflito que conta com 52 anos, anistiando os guerrilheiros, e passando as FARC a ser um partido político contando com cinco vagas garantidas no Congresso colombiano nas próximas eleições independente da sua votação, além da implantação de políticas de inclusão aos ex-guerrilheiros, garantindo cursos profissionalizantes e inclusive bolsas de auxílio.
O acordo, que fora negociado por anos em Cuba entre governo e guerrilha, deverá ser submetido ainda a plebiscito pelo povo colombiano, que está, como não poderia deixar de ser, dividido entre aprová-lo ou não.
De um lado, os que são contrários ao acordo alegam que o governo fez muitas concessões a um grupo guerrilheiro que cometeu inúmeros crimes deliberados na Colômbia, tais como extorsões, sequestros, assassinatos etc., e que anistiar os guerrilheiros seria, além de uma vergonha para o país, uma vitória para as FARC, e muitos dos que foram vítimas da guerrilha alegam que se sentirão humilhados e inseguros sabendo que seus algozes estão livres e anistiados.
De outro lado, os favoráveis vêem o acordo como única possibilidade acabar com a guerrilha e findar a luta armada que dura décadas, pois a continuação do conflito dificilmente levaria a vitória definitiva do governo, tendo em vista, entre outras, as estratégias das FARC em se infiltrar nas comunidades rurais, usando-as como escudo ou mesmo conquistando-as por proteção, dispersa-se em zonas de difícil acesso, além de manter inúmeros sequestrados sob suas armas, o que impediria um ação mais violenta e definitiva pelo governo.

Na foto, um caneta feita no corpo de uma bala, gravada com a seguinte frase: "As balas escreveram nosso passado. A educação, nosso futuro".

Xadrez verbal: política internacional

Indico aos que se interessam por política internacional o site Xadrez Verbal, que conta com, além do site, podcast, canal no YouTube, Twitter e Facebook (links abaixo), com comentários e notícias sobre o que acontece nas relações mundo a fora.
O autor do projeto é o professor Filipe Figueiredo, que faz também os vídeos de história do canal Nerdologia. No podcast, ele divide os programas com o Matias, e, recentemente, também passou a fazer parte a professora Vivian Almeida, comentado sobre economia, e também há de tempos em tempos convidados e entrevistas.

Links: Xadrez Verbal; Podcast; YouTube; Facebook; Twitter.