quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Gato Barbieri

Gato Barbieri condensa em sua obra os ritmos da América Latina e, com isso, as agruras e alegrias do continente, passeando da sensualidade do tango, à dramaticidade da rumba, à alegria do samba, tudo isso adensado com a subversão elegante do jazz.
Uma das mais conhecidas obras de Barbieri é a trilha sonora do grande filme O Último Tango em Paris, de Bernardo Bertolucci, casando perfeitamente com o clima sensual e dramático, a música de Gato Barbieri deve ser ouvida sem 'beurre'.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Uma parada na saudade.


As obrigações laborais me levaram hoje a uma das cidades da Paraíba ainda para mim desconhecidas: Aroeiras, no Agreste do estado.
Mesmo nos aventurando em terras nunca dantes, por nós, navegadas, tivemos o que pareceu ser uma ótima ideia de cortar caminho por um atalho. Resultado: por mais que tenhamos economizado alguns bons quilômetros, as naturais condições de uma estrada de barro nos tomou um tempo para além das nossas expectativas. Porém, o que poderia ter sido motivo de arrependimento, acentuado ainda pelo sol inclemente e indiferente a qualquer ar-condicionado, foi, na verdade, um exercício de saudade, pois fez surgir aos meus olhos uma paisagem quase idêntica à qual, na não tão distante meninice, descortinava-me as entranhas telúricas de Barra de Santa Rosa, nas minhas andanças pelo Algodão de Jandaíra.
Tal qual as várias lavadeiras que planavam sob o céu, minhas lembranças voavam livres e festivas ante à aridez perenizada, em mim e na terra, cada um devido ao seu tempo. Se há algo que pouco se diferencia nos rincões nordestinos, é a disposição, arquitetônica e moral, do sertão, esse descampado da modernidade que pulsa vida em todas as suas veias.
Na terra, o mormaço convivia com os primeiros sinais de chão rachando há poucos metros de um açude, o oásis do sertanejo, supridor de tão primitiva necessidade, inevitavelmente trazendo à memória a imagem da sempre presente expressão de iminente sorriso, ou gargalhada, que leva à face da pele castigada pelo sol o relevo de tantas marcas de uma vida de luta. Água e sorriso, brisas inescapáveis desses tão humanos titãs, que não saberia ao certo dizer se eles suportam o sertão, ou o sertão é quem suporta suas imponências.
Ainda no chão, a rudeza das cactáceas pincelavam tão delicada composição. Levavam, essas plantas, o para nós inconcebível passar e suportar do tempo. Não poderia o reino vegetal ser mais perspicaz: tal qual o homem, com o qual coabita, também ignoram as intempéries, naturais ou humanas, que fustigam apenados inocentes, colossos que confrontam e perseveram frente a todas as dificuldades.
Nos alpendres, a comprovação de uma cronologia diferente: semblantes cansados repousam, crianças parecem flutuar sobre as ruas, despreocupadas com qualquer escândalo de crueldade, confiantes no elo que a todos une - a lealdade - e a que todos recebe - a caridade.
Deselegantemente, prestei atenção a uma conversa em andamento entre uns residentes, quando um disse: - Ele morreu porque depois que bateu a moto foram socorrer ele, todo mundo sabe que não pode mexer em quem sofre acidente, tem que esperar a ambulância, mas ninguém aguentou ver ele sofrendo, aí mexeram, e ele morreu.
Oh, infindo coração dos homens e mulheres do sol, que sofrem a dor mais exígua e distante dos seus como se sua fosse! Que se despojam de quaisquer vaidades ou empecilhos para ajudar conhecidos ou desconhecidos! Quiçá o mundo, um dia, deixe de ser esse deserto egocêntrico e vire sertão, esse oceano de humanidade!
Quando organizei no meu bolso inúteis indumentárias que nosso mundo nos obriga a carregar, celular, chaves, papéis, vi-me no Algodão do Jandaíra correndo descalço, sujo de barro, sorridente entre outras crianças, cachorros, galinhas, vacas, despojado de tudo que não de alegria. Vi-me feliz, por que não?
Apontando de volta ao litoral, escapou-me novamente minha saudade - criatura que não nos habita, antes nos parasita - e volta ela ao seu lugar de sempre, à poeira, ao sol e à companhia dos fortes que a tudo suportam.
Antes de partir novamente, materializa-se como que para se despedir, e em forma de preá atravessa nosso caminho, adentrando no habitat exclusivo dos que trazem em seu coração a chave para decifrar a simples complexidade do homem e da mulher da terra. Adeus, minha saudade, até a próxima volta.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Desigualmente igual?

Desde que altos funcionários do FMI disseram que o modelo neoliberal estimulado durante tantas décadas pelo Fundo pode ter aumentado a desigualdade mundial que setores da esquerda se regozijam de terem denunciado o modelo tão sôfrego imposto aos países que tiveram que se socorrer ao organismo, se submetendo aos ditames de austeridade que refreava, ou impedia, o desenvolvimento social e uma maior distribuição de renda.
A dolarização da economia mundial somada ao império financeiro e monetário que fora imposto ao mundo em Bretton Woods tem sido, se transvestindo de salvaguarda da economia do mundo pós-45, o grande vetor da consolidação da hegemonia monolítica dos EUA, que controla tanto o FMI quanto o Banco Mundial.
Os BRICS vêm buscando implantar uma alternativa a esse pelos países em desenvolvimento, notadamente com a criação o Banco Brics. Os países membros desse bloco podem ser considerados países em desenvolvimento e, estando virtualmente inseridos na zona das agruras econômicas e sociais inerentes ao seu estado, teriam maior sensibilidade quanto à forma das concessões financeiras e ajudas, que seriam mais democráticas e socialmente responsáveis.
A presença, no entanto, de duas potências nucleares com ares - para se dizer o mínimo - totalitaristas, ao mesmo tempo que individualmente vêm buscando expandir seus interesses bélicos, geográficos, econômicos e monetários - vide os vultuosos investimentos feitos pela China na África com vistas a privilégios comerciais, e seus planos de aumento de investimentos na América Latina - leva ao questionamento de se, futuramente, implantado e bem sucedido os planos do bloco, não haveria uma situação não muito diferente da que hoje temos dada.
Um maior equilíbrio com certeza iria existir, resta a expectativa de que uma oportunidade ímpar dessas seja bem aproveitada para, sim, dessa vez, diminuir a desigualdade no mundo.

Nocaute


Não poderia deixar de indicar o blog do grande escritor Fernando Morais - Olga; Chatô, o Rei do Brasil - , o Nocaute, ácido e parcial como tem que ser.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Autógrafo especial

Ontem tive a honra de ganhar o autógrafo do grande jornalista e escritor Tião Lucena, grande baraúna das letras paraibanas e digno representante da cidade de Princesa Isabel. Seu livro, A Guerra de Princesa (Editora Bagaço), trata de um dos mais interessante episódios políticos que marcaram a as vésperas da República Velha, que foi a revolta do município paraibano liderada pelo coronel José Pereira frente ao governo de João Pessoa, que resultou na proclamação da República de Princesa, com hino, bandeira, governo próprios e uma Constituição em elaboração.
O livro está infelizmente esgotado, mas caso alguém o encontre em algum sebo, vale muito a pena a leitura.
Tive até a honra de aparecer no Blog do Tião, referência no Brasil sobre política local, com os comentários sempre certeiros do nobre princesense.
Tripla honra para mim: a maravilho recepção, o autógrafo e a a lembrança no blog por Tião. A ele, meus mais sinceros agradecimentos.

Mopho

No ano de 2001, mais ou menos, fui apresentado a uma banda psicodélica brasileira de Alagoas: Mopho. Meu amigo Salomão me emprestou o primeiro CD da banda, e ainda me passou alguns links com matérias e entrevistas. Com nítida influência de Mutantes e (claro) Beatles, mas também com uma personalidade bastante forte para se firma como uma banda longe de uma mesmice que poderia aparentar, e eu, fiquei louco pela banda. Lembro que, na época, fiz até amizade com um primo de um dos integrantes, e vivíamos conversando pelo finado ICQ, o que me deixou sempre atualizado sobre o que acontecia com os caras e tal. Fui até um dos primeiros a saber que a banda tinha acabado.
O nome Mopho vem de um comentário que um sujeito fez sobre o som da banda, dizendo que iria mofar porque estava ultrapassado, aí juntou com o lance do psicodelismo e ainda mais com o nome de uma música do U2, que é mopho também.
Para quem quiser escutar, eis o MySpace e o Facebook. E abaixo segue um texto com um pouco da história da banda.
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O Mopho teve a sua estréia no mercado fonográfico em 2000 com o disco homônimo “Mopho” lançado pelo selo paulistano Baratos Afins. O disco de estréia levou a banda, naquela época a ilustrar as páginas dos principais jornais e publicações do Brasil, alguns veículos da imprensa chegaram a apontar o quarteto como a principal banda psicodélica do país fazendo com que o quarteto participasse dos principais festivais de música como, por exemplo: Abril pro Rock (Recife e São Paulo), Porão do Rock (Brasília), Balaio Brasil (São Paulo), Festival de Inverno De Garanhuns (Pernambuco), contabilizando ainda shows por Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis entre outras grandes cidades. O som do grupo cruzou as fronteiras do país e figurou como destaque na rádio KARXL de Berkley (Califórnia, USA) durante muito tempo. Em 2003 quando estavam prestes a lançar o segundo disco e após terem tocado por todo o Brasil, a banda se dissolveu. Em 2004 o Mopho lança “Sine Diabolo Nullus Deus” (Baratos Afins) com apenas dois integrantes da formação original – João Paulo (guitarra e vocais) e Leonardo Pereira (teclados). No mesmo ano os dissidentes do grupo – Júnior Bocão (contrabaixo e vocal) e Hélio Pisca (bateria) lançam “A Terra é nossa Casa Flutuante” (Independente) com um novo projeto, batizado de Casa Flutuante, e seguem para fixar residência em São Paulo. Em junho de 2008, após cinco anos separados, o grupo se reencontra para um show na capital paulista e ali começam a escrever um novo capítulo para essa história. João Paulo, acompanhado de Dinho Zampier (teclado) propõe a Júnior Bocão e Hélio Pisca a produção de um novo disco. Ainda em 2008 a banda participa do festival Quebra-Mar (Macapá) e voltam a se encontrar em Alagoas em junho de 2009 ano, onde em cinco dias selecionam repertório, arranjam e iniciam as gravações do esperado terceiro álbum, ainda sem título e com previsão de lançamento para este ano. O Mopho já tem 13 anos de trajetória e uma história que se divide entre altos e baixos, brigas, reencontros, uma legião de fãs espalhados por todo o país e o reconhecimento por grande parte da crítica musical atuante no Brasil. Agora mais maduros, o quarteto promete recolocar a banda em uma posição de destaque, fazendo o que mais sabem, música de qualidade e um alto teor de sofisticação em seus arranjos e canções. Arnaldo Baptista em uma entrevista ao Estado de São Paulo certa vez proferizou,... O contrário de Mopho não é “fômo”, o contrário de Mopho é “Vortemo”! Um belo trocadilho que agora faz todo o sentido, pois o famoso e lendário Mopho está de volta e a todo vapor!

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Sobre a reforma da educação

"A man in a room", atribuído a Rembrandt ou a um seu discípulo
Nunca dei relevância às teorias conspiratórias que afirmam que os políticos não investem na educação por que querem uma população ignorante para, assim, ser manipulada mais facilmente. E não acredito nisso porque acho que nossos políticos não teriam a sutil inteligência para delinear um raciocínio tão malignamente sofisticado.
Não se dá a devida importância à educação no Brasil pelos mesmos motivos que não se dá à saúde, segurança, urbanização, transporte etc: por completa incompetência e desinteresse, e não após uma decisão a portas fechadas em que os líderes se negam propositalmente a investirem nessa tão sensível área que poderá, futuramente, lhes causar algum prejuízo. Se alguém na terra de Vera Cruz é imediatista é a classe política.
No mais, não acho que restam dúvidas sobre a necessidade urgente de se reformar a nossa educação e, finalmente, superarmos esse modelo escolástico, medieval e limitador que temos hoje. Reforma estrutural e tão urgente que já fora tentada por tão longínquos vultos como Ruy Barbosa.
Crianças e jovens estão cada vez mais ávidos por conhecimento e para demonstrarem suas habilidades e criatividades, mas um sistema em que os assuntos são passado quase que roboticamente, desconexos da realidade, que tem como única utilidade a aprovação em uma prova de vestibular fatalmente irá afastar cada vez mais os alunos das escolas e, talvez, até extinguir a possibilidade de grandes profissionais, empreendedores, cultos e inovadores saírem dos bancos dos liceus.
Concordo que deva haver um direcionamento dado pelo próprio aluno em seus estudos, mas sem fechar a possibilidade de, em um breve futuro, ele mudar de ideia, além de tornar assuntos tão importantes como história, sociologia, filosofia - que em alguns países esses estudos são realmente sérios e densos - serem obrigatórios, mudando, claro, a forma de transmitir e avaliá-los.
Para essa mudança, no entanto, deve-se mudar (quase) tudo: salários dos professores, número de alunos por sala, aplicação prática do conhecimento, modos de incentivo, ensino integral com inclusão de artes e esportes e, para completar a quimera, avaliação individual e progressiva. E para tanto, é imperioso o diálogo com profissionais da classe e com os estudantes, que são os diretamente interessados e afetados, e não de cima para baixo por burocratas partidários em busca de apoio para as próximas eleições.
Outra grande conquista que foi posta em xeque foi a não obrigatoriedade de formação na área em que se irá lecionar, aliás, a nem mesmo obrigatoriedade de curso superior, um retrocesso tamanho que desprestigia os licenciados além de deixar uma grande brecha para que ingerências antirrepublicanas e anti-educacionais virem a regra.
Da forma que foi - ou que se está querendo fazer - uma reforma tão importante e já tardia que tem impacto decisivo no futuro do nosso país, mais dúvidas que certezas são levantadas sobre seu propósito, e, para mim em particular, uma dúvida extra foi plantada: será que, de fato, há um grande gênio do mal com tanto calculismo por trás dessa ideia?