quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Sobre a reforma da educação

"A man in a room", atribuído a Rembrandt ou a um seu discípulo
Nunca dei relevância às teorias conspiratórias que afirmam que os políticos não investem na educação por que querem uma população ignorante para, assim, ser manipulada mais facilmente. E não acredito nisso porque acho que nossos políticos não teriam a sutil inteligência para delinear um raciocínio tão malignamente sofisticado.
Não se dá a devida importância à educação no Brasil pelos mesmos motivos que não se dá à saúde, segurança, urbanização, transporte etc: por completa incompetência e desinteresse, e não após uma decisão a portas fechadas em que os líderes se negam propositalmente a investirem nessa tão sensível área que poderá, futuramente, lhes causar algum prejuízo. Se alguém na terra de Vera Cruz é imediatista é a classe política.
No mais, não acho que restam dúvidas sobre a necessidade urgente de se reformar a nossa educação e, finalmente, superarmos esse modelo escolástico, medieval e limitador que temos hoje. Reforma estrutural e tão urgente que já fora tentada por tão longínquos vultos como Ruy Barbosa.
Crianças e jovens estão cada vez mais ávidos por conhecimento e para demonstrarem suas habilidades e criatividades, mas um sistema em que os assuntos são passado quase que roboticamente, desconexos da realidade, que tem como única utilidade a aprovação em uma prova de vestibular fatalmente irá afastar cada vez mais os alunos das escolas e, talvez, até extinguir a possibilidade de grandes profissionais, empreendedores, cultos e inovadores saírem dos bancos dos liceus.
Concordo que deva haver um direcionamento dado pelo próprio aluno em seus estudos, mas sem fechar a possibilidade de, em um breve futuro, ele mudar de ideia, além de tornar assuntos tão importantes como história, sociologia, filosofia - que em alguns países esses estudos são realmente sérios e densos - serem obrigatórios, mudando, claro, a forma de transmitir e avaliá-los.
Para essa mudança, no entanto, deve-se mudar (quase) tudo: salários dos professores, número de alunos por sala, aplicação prática do conhecimento, modos de incentivo, ensino integral com inclusão de artes e esportes e, para completar a quimera, avaliação individual e progressiva. E para tanto, é imperioso o diálogo com profissionais da classe e com os estudantes, que são os diretamente interessados e afetados, e não de cima para baixo por burocratas partidários em busca de apoio para as próximas eleições.
Outra grande conquista que foi posta em xeque foi a não obrigatoriedade de formação na área em que se irá lecionar, aliás, a nem mesmo obrigatoriedade de curso superior, um retrocesso tamanho que desprestigia os licenciados além de deixar uma grande brecha para que ingerências antirrepublicanas e anti-educacionais virem a regra.
Da forma que foi - ou que se está querendo fazer - uma reforma tão importante e já tardia que tem impacto decisivo no futuro do nosso país, mais dúvidas que certezas são levantadas sobre seu propósito, e, para mim em particular, uma dúvida extra foi plantada: será que, de fato, há um grande gênio do mal com tanto calculismo por trás dessa ideia?

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