Era um pequeno bar, com algumas poucas mesas, um balcão com
apenas um banco de pernas altas em seu frente, e uma pista livre onde a maioria
dos que frequentavam ficavam de pé, em frente a um pequeno palco.
Um ventilador afixado no parte superior do encontro entre
duas paredes, assoprava um vento preguiçoso que cumpria seu papel de resfriar
por apenas alguns centímetros devido à temperatura do ambiente. Temperatura que
era o encontro do abafo interno com a brisa que vinha da praia que ficava há
poucos metros da entrada.
De segunda a sexta apenas o bar funcionava, sem banda, uma
tela lcd transmitia algum show, ou the doors, ou ac/dc, ou uma coletânea de
vídeo clipes de bandas variadas. No sábado havia música ao vivo, quase sempre
uma banda sem nome que toca covers. Tinham composições próprias, mas quase
nunca tocavam.
Na parede lateral, de frente ao balcão, havia uma placa de
Proibido fumar. Tal advertência era controlada severamente pelo proprietário,
que, por força de lei municipal, ordenava que quem quisesse fumar que fumasse
na calçada. Era ex fumante.
O baixista da banda, no entanto, quando tocava, não era
coibido. Haviam estudado juntos e quase tudo o que o dono do bar sabia sobre
música havia sido transmitido por ele. Nutria uma reverência, um respeito de filho, quase, pelo colega.
Com uma camisa do U2, no palco algumas horas antes
de iniciar o show, tirava o riff de Ticket to Ride com pouquíssimas pessoas
perambulando pelo bar. O cigarro na boca sustentava uma fileira de cinzas que
se amontoavam próximo ao seu pé direito quando caiam. O dono do bar fingia não
ver.
Em uma das mesas, sozinho, mas acompanhando por uma cerveja,
querendo puxar assunto com alguém, um sujeito pergunta ao baixista quando acaba
o riff, após procurar mentalmente algo que poderia render uma conversa: -Tua fuma por que? E o baixista responde: -Fumo porque sou só, e o cigarro me faz
companhia.
O sujeito volta as costas à cadeira sem entender se a resposta se tratava de um convite ou de uma rejeição.