segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Galinha, bacon e cebola

Sem sono e com fome às três da manhã, a escassez de comida me fez sair naquela noite ao Drive Thru do McDonalds. Após pedir o CBO, o atendente, talvez querendo dissipar a solidão que sua função o obriga a suportar, sentado sozinho naquela cabine naquele horário, enquanto esperava minha operadora de Cartão de Crédito afirmar que eu poderia fazer a compra, perguntou se eu sabia o que queria dizer CBO, respondi, dando conta que nunca havia me perguntado sobre o significado das três letrinhas, que não e o mesmo replicou: Chicken, bacon, onion, quer dizer frango, bacon é bacon mesmo e cebola. É o maior hambúrguer de frango do McDonald's.
Uma noite, antes desse episódio, em Portugal, fui jantar no rede multinacional. Estava com muita fome, e nessas horas era sempre o Big Tasty que me salvava. Mas já na fila, no entanto, decidi experimentar o CBO pela primeira vez, que é do mesmo tamanho do Tasty, mas com frango, bacon e cebola -como não havia percebido o significado das letrinhas?- ao invés de carne bovina com molho especial. Fiz a escolha certa. Já na mesa, comendo, vejo que entra uma senhora, algumas camadas de roupa um pouco esfarrapadas, coberta por um casaco preto bastante sujo, um chapéu preto, um livro e uma flor na mão. Depois de muito acompanhar os movimentos que ela fazia com o livro com a minha cabeça, descobri que era um livro de Proust.
Ela entra e senta na mesa em frente a que eu estava sentado comendo meu CBO. Uma das funcionárias, ao perceber, dirigiu-se à senhora e perguntou o que desejava, e a senhora respondeu com algumas palavras incompreensíveis e com um brusco gesto de mão ordenando que a garçonete saísse. A garçonete, claro, obedeceu.
Pouco tempo depois entra um senhor, também com roupas bem acabadas, e se senta ao seu lado. Os dois conversam algo que não conseguia compreender enquanto a senhora tentava encaixar o plug de um fone de ouvido em algo que lembrava um mp3 player. Desisti de acompanhar e tentar entender o que se passava e fui me dedicar ao meu hambúrguer.
Depois de comer, e aprovar, o CBO, consegui ainda comer metade da batata frita que fazia parte do combo, deixando a outra metade na mesa. Quando o homem que acompanhava a senhora que citei percebeu que sobrou a outra metade, olhou para mim e pediu, quase ordenou, apontando com um retilíneo dedo e balbuciando algo que novamente não consegui compreender, quase que ordenou que eu entregasse as batatas. Claro, obedeci. Entreguei o que restou da batata na sua mão, e nessa transição algumas batatinhas caíram no chão sujo do restaurante que estava repleto de estudantes e seus tênis sujos, no que foram de pronto apanhadas pelo senhor que logo também as comeu sem sequer as colocar na embalagem de origem.
Quando o casal foi embora, uma senhora, portuguesa, que estava ao meu lado, e que assistiu a tudo, disse que aquela senhora foi uma enfermeira bem sucedida em Coimbra, mas que, inexplicavelmente, terminara daquela forma, perambulando pelas ruas, pedindo a um e a outro. Disse também que recusou uma casa que o governou a ofereceu, e que hoje dormia e acordava na rua.
-É triste, arrematou a senhora que me contou a história. Logo me lembrei do filme Ironweed, de Hector Babendo, com Jack Nicholson e Meryl Streep, que conta uma história similar, de um casal que acabou como aqueles dois, pela rua, aqui e ali, comendo o que sobrou de um estudante que experimentava um CBO pela primeira vez.

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