quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Teclados

Na primeira infância, com a (pueril) esperança de um futuro artístico, meti-me a aprender piano... Ganhei um teclado que não era nem de brinquedo nem profissional. Um primo que já tocava, as inúmeras revistas de como aprender a tocar foram o suficiente para eu encontrar ideia fixa. Encontrei meu emplasto Brás Cubas. 
Lembro que a grande dificuldade que os poucos anos de vida e a já latente falta de talento me impuseram foi a de tocar com as duas mãos. Mas o destino, que não acredito, fez que a uma das primeiras músicas que aprendi a tocar completamente foi Carinhoso, de Pinxinguinha.
Em uma data qualquer que os anos levou e minha memória não se comunica mais, com o intuito narcisístico de autopromoção, aproveitando a presença de um tio que quase nunca nos visitava, levei meu teclado para tocar na sua presença. Entre os tantos aborrecimentos que as notas mal tocadas provocaram, a tentativa de Carinhoso saiu perfeita.
Meu Tio parou o copo de cerveja na metade do caminho para seu bigode grisalho, largou-o na mesa com espanto, apontou um dedo para mim, e sem deixar de digitar as notas, desviei com surpresa o olhar do teclado e o vi, com os olhos fechados, com a mão flutuando no ar como se fosse um maestro me regendo, cantarolou: Meu Coração, não sei por que bate feliz quando te ver...

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